A fissura labiopalatina é a ausência de fusão entre os ossos e músculos dos lábios e palato (céu da boca). No Brasil, a cada  650 bebês 1 nasce com fissura labiopalatina e o tratamento correto possibilita a completa reabilitação de sua fala.

 

Como o bebê vai aprender a falar?

Quando a criança tem a fissura de lábio, mantendo o palato íntegro, não é esperado nenhum problema de fala específico, pois todos os sons podem ser produzidos a partir da movimentação da boca, língua e palato.

Quando a pessoa nasce com uma fissura no palato (junto à fissura de lábio ou não), podem ocorrer problemas específicos de fala por conta da comunicação que se mantem entre a boca e o nariz. Por isso que a cirurgia do palato (palatoplastia) deve ser realizada antes da criança começar a falar muitas palavras, ou seja, até 18 meses de idade. A técnica cirúrgica empregada para o reposicionamento da musculatura e fechamento do palato também é importante para a adequada movimentação das estruturas e o equilíbrio da voz.

A criança com fissura labiopalatina, sem outros comprometimentos associados, tem a capacidade de desenvolver a linguagem e a fala como qualquer outra criança.

A partir dos 12 meses de idade é esperado um salto em relação à compreensão da linguagem, bem como as primeiras palavras com significado, como mamãe, mamá, nenê, etc.

Após os 18 meses nota-se um importante aumento do vocabulário. Por isso, os centros especializados em fissura realizam a cirurgia do palato entre 12 e 18 meses de idade, aguardando o crescimento craniofacial e proporcionando condições ideais para que o aprendizado das palavras ocorra da forma adequada, sem erros relacionados à fissura palatina.

 

Por que acontece a hipernasalidade?

Com o palato aberto, os sons da fala serão direcionados para o nariz, fazendo com que a voz saia “fanha” e abafada, dificultando a compreensão do que se está falando.

Fissura de lábio e palato unilateral à esquerda

Outra dificuldade na fala que a fissura de palato pode causar é a articulação compensatória, quando a criança aprende a falar substituindo dos sons corretos da fala por “soquinhos” no pescoço ou “raspadinhos” na garganta. Isso acontece como uma forma inconsciente da criança de tentar falar com força na boca, como as demais pessoas da família. O nome correto do “soquinho” é golpe de glote,  produzido em sua maioria no lugar dos sons plosivos da nossa Língua, como os sons “p”, “b”, “t”, “d”, “k” e “g”. O nome correto do “raspadinho” é fricativa faríngea e, na maioria das vezes, ele é produzido no lugar dos sons fricativos da nossa língua, como os sons “f”, “v”, “s”, “z”, “ch” ou “x” e “j”. O fonoaudiólogo que trabalha com fissura labiopalatina é o profissional que diagnosticará se o seu filho apresenta ou não esta alteração e, em caso positivo, ele ensinará os pais e cuidadores a perceber o problema e orientará como estimular a produção correta ou evitar que apareçam.

 

Quando começa a terapia fonoaudiológica?

Mesmo antes da cirurgia é possível que a criança já experimente a pressão dentro da boca (intra-oral), dificultada pela fissura no palato. Por volta dos 6 meses de idade, quando ela começa a falar as primeiras sílabas em uma sequência, como se estivesse falando em outra língua, estudos apontam os benefícios de tampar as narinas do bebê (fazendo um “pinçamento”) e soltar, várias vezes como sugeriram as fonoaudiólogas Golding-Kushner (2001) e Matos, Gomes e Dias (2009), para que o som da fala que está abafado pela nasalidade fique semelhante a sons orais, como o “p”. Essa oclusão das narinas é temporária, mas funcional. Alguns pais relatam que a criança fala ‘mamai’ em vez que ‘papai’, mas muitas vezes o som está fraco e ele está tentando emitir a palavra certa, mas acaba parecendo que existe essa troca. Quando oclui as narinas, a palavra ‘papai’ soa corretamente. Após a palatoplastia restabelecendo a função adequada do palato, esta estratégia de pinçamento deve ser abandonada, iniciando o ensinamento do uso correto da boca para a produção das consoantes orais plosivas e fricativas (Matos, Gomes e Dias 2009).

Estratégia para estimulação: pinçamento das narinas do bebê.

 

É importante também que os pais e cuidadores não reforcem as articulações compensatórias, nem qualquer troca realizada pela criança. O padrão correto deve ser dado, sem cobrança alguma, mas apenas como modelo para que isso seja captado pela criança. Sabemos que é difícil identificar se a criança está fazendo a produção correta ou não de determinado som, ou se a troca identificada é normal ou não para a idade da criança. Por isso é interessante que os pais aos poucos vão se atentando à fala de seus pequenos e sigam conversando com a fonoaudióloga sobre o padrão correto de fala.

 

A terapia fonoaudiológica com o enfoque na fala ocorrerá após a palatoplastia, quando a criança terá condições anatômicas de produzir os sons corretamente. A partir de um mês após a cirurgia (tempo dado à completa cicatrização das estruturas do palato) é interessante que se faça a avaliação fonoaudiológica para orientações sobre como a família pode realizar exercícios que estimulem a pressão da boca, agora que o palato está fechado. Se a criança já apresentar alguma articulação compensatória em substituição aos sons orais, sugere-se o início do tratamento fonoaudiológico, para que a criança aprenda a articulação correta do som e deixe de usar a compensação “fanhosa”.

 

Para cada tipo de fissura labiopalatina há uma sequência de passos a serem seguidos no tratamento, respeitando o crescimento e desenvolvimento do bebê. Ao longo do tratamento, independente do tipo de fissura, um ponto é comum à todos: o tratamento é realizado por uma equipe técnica (pediatra, cirurgião plástico, fonoaudiólogo, dentista, otorrinolaringologista e psicólogo) em parceria com a família. Esta parceria fortalece e dá segurança à criança, de que tudo dará certo!

 

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Bibliografia consultada:

Barbosa DA. A fissura labiopalatina. In: Barbosa DA e Pannunzio L. As Fissuradas: Guia de Orientações Sobre Fissura Labiopalatina. Booktoy. Ribeirão Preto. 2017.

Yamashita RP, Fukushiro AP. A fala nafissura labiopalatina: toda pessoa com fissura terá “voz fanhosa”?. In: Barbosa DA e Pannunzio L. As Fissuradas: Guia de Orientações Sobre Fissura Labiopalatina. Booktoy. Ribeirão Preto. 2017.

Alves TCN, Barbosa DA, Queiroz JAN. Terapia Fonoaudiológica: o que os pais precisam saber? In: Barbosa DA e Pannunzio L. As Fissuradas: Guia de Orientações Sobre Fissura Labiopalatina. Booktoy. Ribeirão Preto. 2017.

8 Replies to “Como estimular a fala da criança com fissura labiopalatina?”

  1. Meu nome é Leonardo tenho 27 anos e um filho de 2 anos que nasceu com fissura bi-lateral e palatino. Estamos com problemas para passar nosso filho, nossa cidade onde moramos muito difícil fazer agendamento.

    Fazemos atividades de FONO com nosso filho por conta própria, através de vídeo da internet e outro artigos que são publicado na internet.

    Graças a Deus meu filho já desenvolveu muito, com oque aprendemos na internet.

    Mesmo vendo o desenvolvimento do Murilo, ainda estamos com receio de estar fazendo algo de errado.

    Precisamos de uma orientação, ou dicas que podemos estimular nosso menino e não prejudicar sua fala enquanto não conseguimos vaga em fono.

  2. Boa tarde! Parabéns pela iniciativa!
    Preciso de auxílio, se possível.
    Meu filho nasceu com fenda palatina e já operou, atualmente está com três anos e faz tratamento com fonoaudióloga.
    O processo está lento devido a apresentar adenoide.
    Se tiver conhecimento de casos como o dele é puder me orientar.
    Vou marcar consulta com otorrinolaringologista porém prefiro alguém específico em fissura para ser assertivo. Obrigada

  3. Olá ,muito obrigada pelas informações,sou estudante em fonoaudiólogia ,estou no primeiro semestre,e seu artigo me ajudou muito em meus estudos,muito obrigada por toda a informação nesse artigo, se caso tiver Instagram ou YouTube para que assim eu possa acompanhar o seu trabalho.desde já muito grata .

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